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O dia em que F. Bueller Key mudou a vida de Thomaz Koston

  • Foto do escritor: Maria Gisele Knust
    Maria Gisele Knust
  • 1 de set. de 2015
  • 4 min de leitura

F. Bueller Key é o pai de J. Key.

A. Key é a mãe de J. Key.

Eles são tios de Thomaz Koston.

Órfão de mãe.

Privado de pai.

25 de Junho de 2015.

Passando de carro em frente ao Colégio Pedro II.

F. Bueller Key: Olha! Alí é o Colégio Pedro II.

A. Key vira a cabeça vagarosamente, verifica.

Retorna com ar de reprovação.

A. Key: Eu sei onde é o Pedro II. Quem não sabe onde fica este colégio é você.

Janeiro de 2010.

A. Key elabora um plano árduo para que Thomaz Koston ingresse em uma boa escola.

A tia se dedica muito.

O sobrinho ainda mais.

Apostilas.

Exercícios.

Simulados.

Redações.

Seleção de filmes.

Resenhas dos filmes.

Mais simulados.

Dezembro de 2010.

Domingo.

Todos acordam bem cedinho.

A. Key não dormiu a noite inteira.

Preocupada.

A. Key: Como você está?

Thomaz Koston: Tranquilo, tia.

A. Key: Que Deus te abençoe, mantenha a calma. E saiba que no fim, tudo sempre fica bem, tá bom?

Thomaz Koston: Tá bom. Obrigado, tia.

A. Key: Boa prova, meu querido.

Thomaz Koston sai com o tio F. Bueller Key.

Na porta do colégio.

Uma fila enorme de adolescentes.

F. Bueller Key: Chegamos! Toma esse dinheiro. Use para o que precisar. Quando terminar, você liga pra gente, tá bom? Vai lá, cara. Boa sorte. Faça a prova tranquilo, tá bom? Deus te abençoe.

Thomaz Koston: Valeu, tio.

Thomaz Koston desce do carro na porta da escola.

Se junta aos outros adolescentes na fila.

No bolso, lápis, borracha, caneta esferográfica e vinte pratas.

Na mão, a confirmação da inscrição.

No peito, o desejo de que as coisas deem certo, só isso.

Duas horas mais tarde.

Em casa.

F. Bueller Key acorda A. Key.

F. Bueller Key: Amor, precisamos conversar.

Ela levanta assustada.

A. Key: O que houve, amor?

Silêncio.

Ela caminha até a sala e vê Thomaz Koston tenso, sentado no sofá.

Olha pro relógio na parede.

A. Key (nervosa): Gente, o que está acontecendo? Thomaz, o que você está fazendo aqui?

Thomaz Koston: Calma, tia. Bem...

A. Key (nervosa): Você já fez a prova? Por que está aqui? Não teve prova? Bueller, você sabe o que está acontecendo. Gente, me explica o que está acontecendo, pelo amor de Deus.

Thomaz Koston: Então tia... Meu tio me deixou lá na porta, né? Daí eu fiquei na fila. Mas... Puxa tia, não fica chateada... Bem, a fila foi andando. Quando eu cheguei bem na entrada. Me pediram o cartão de confirmação, pra ver a sala. Quando eu dei, a moça disse...

Uma hora e meia antes.

Fiscal de Prova: Puxa, meu filho, você está no local errado. Que dó. Eu vou te explicar onde é... É meio longe, mas tenta pegar um taxi. Você tem dinheiro?

Thomaz Koston (prontamente): Tenho!

Fiscal de Prova: Ah, meu Deus. Que dó, gente. Vem cá meu filho. Olha... Segue esta rua até o final. É bem no início. Aqui não tem mão. Tenta parar um táxi. Implora, diz que você vai perder a prova. Se ninguém puder ajudar, vai correndo. Aliás, vai correndo, é melhor você correr. Vai, meu filho. Corre! Vai. Vai.

Thomaz Koston sai correndo pela rua.

Para um táxi.

Thomaz Koston: Moço, me ajuda? Eu preciso ir pro Colégio Pedro II.

Taxista: Puxa, vamos dar uma volta enorme. É a prova?

Thomaz Koston não responde.

Sai correndo pela rua na direção que mandaram.

Se estava no caminho certo, ele nem sabia.

Mas ele precisava correr.

Correu muito forte.

Muito forte.

Mesmo depois que viu o portão fechado, ele continuou correndo.

Porque fé é acreditar nas coisas que não vemos.

Em casa, continuando o relato.

Thomaz Koston: Tia, fica bem, tá?

A. Key respira fundo, perplexa.

F. Bueller Key, mudo.

Novembro de 2014.

Formatura de Thomaz Koston do ensino médio.

Thomaz Koston (brincando): Aê, tio. Não me formei no Pedro II, mas a FAETEC me rendeu bons amigos, até uma namorada.

F. Bueller Key (rindo): Putz, moleque. Esse assunto hoje?

A. Key abraça orgulhosa o sobrinho. Abraça o marido também.

Dezembro de 2014.

Por telefone.

Thomaz Koston (rindo nervoso): Tia, tia, tia...

A. Key: O que houve, cara? São que horas?

Thomaz Koston (ainda nervoso): Puxa, tia, a senhora não vai acreditar...

A. Key: O que foi, moleque? Desembucha!

Thomaz Koston: Caraca! Tia, o ENEM. Putz, eu acho que...

A. Key: Você conseguiu? Conseguiu? Conseguiu, moleque?

Thomaz Koston: Consegui, tia. Eu consegui.

23 de Junho de 2015.

É aniversário de Thomaz Koston.

Ele está em semana de provas na UFF.

J. Key, Tio Bueller e tia A. Key levam Thomaz Koston para cantar o típico parabéns do Outback.

F. Bueller Key: Pode falar, garoto. Quando você se formar... Vai ser orador da turma. E vai dizer...

A. Key (cortando o marido): Ele vai dizer... Eu agradeço imensamente a minha querida tia por estar aqui hoje (ri!).

Thomaz Koston: Isso mesmo! Vai ser assim, oh... Eu gostaria de agradecer a todos, mas principalmente a minha tia.

A. Key sorri orgulhosa.

Thomaz Koston (continuando): Eu gostaria de agradecer a minha tia, por ter casado com aquele cara ali.

Thomaz Koston (apontando pro tio Bueller): Tio Bueller, você é o cara!

Os três riem.

J. Key pinta um desenho.

Thomaz Koston continua correndo, todos os dias.

F. Bueller Key continua tentando o melhor pra sua família.

A. Key continua perdoando F. Bueller Key, todos os dias também.

FIM

Nota:

Depois de perder a prova do Colégio Pedro II, Thomaz Koston fez e passou na prova da FAETEC. Estudou lá por quatro anos. Fez amigos. Conheceu excelentes professores. Começou a namorar a doce Jackie Maluca. Se preparou com afinco pro ENEM. Conquistou uma vaga na UFF. Hoje tem como objetivo, para seu vigésimo ano de vida, passar em Cálculo I. O vacilo de tio Bueller virou piada em toda família. Tio Bueller ainda dá caronas pra Thomaz Koston. E fará isto eternamente. Porque as coisas não dependem do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece.

 
 
 

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O PROJETO

O "CÉU DE JOÃO" nasceu com o objetivo de registrar as narrativas dramatúrgicas desenvolvidas por Maria Gisele Knust.

 

Dividido em três categorias, registra histórias, principalmente, do universo infantil.

 

FAMILY KEY, conta as histórias vividas pelo pequeno J. Key, de quatro anos de idade, e sua família. Este miúdo gaiato, protagoniza as mais sensíveis e mirabolantes aventuras de uma criança comum, que frequenta a escola, brinca com o vizinho e sobrevive aos primos mais velhos.

 

CLARICE DISSE, registra o cotidiano lúdico de uma menina especial que, algumas vezes, tem um vocabulário único que desafia todos ao seu redor.

 

PÉ DE LUCY, traz personagens baseados nas histórias dos avós do J. Key e de outras raridades da terceira idade.

 

 

 

A AUTORA

Maria Gisele Knust é graduada em Design Gráfico, cursou Artes Cênicas na Escola de Teatro Martins Pena no Rio de Janeiro, e estudou no Núcleo de Dramaturgia da Casa de Artes de Laranjeiras. Possui quatro contos publicados no eBook Kindle no ano de 2015.

 

Ama dramaturgia, abraço e sorvete.

 

Tem síndrome do escrivão, mas digita muito bem.

 

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