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Liga no 204

  • Foto do escritor: Maria Gisele Knust
    Maria Gisele Knust
  • 27 de ago. de 2015
  • 2 min de leitura

Vinte e seis de agosto de dois mil e quinze.

O aniversário de quatro anos do J. Key.

A despedida do Fox.

Um dia antes.

J. Key: Fox, eu fiz um presente pra você.

Entrega uma pintura em tela com aquarela feia com os próprios dedinhos.

Fox: Que legal isso. E onde está o presente que você falou?

J. Key (injuriado): É esse né? E tem uma carta também. Abre! Aqui é um avião, e aqui é você dirigindo o avião.

Amanheceu.

Mãe do J. Key: Bom dia, filho. Feliz Aniversário!

Mãe do Fox: Bom dia, filho. Feche as malas!

Quinze horas.

Fox: Oi J. Key, eu tenho um presente pra você. Feliz Aniversário!

Entrega um diário, com recortes de fotos.

A prova de uma história vivida de verdade.

J. Key: Hoje é meu aniversário.

Fox: Hoje eu vou embora.

Dezesseis e Trinta.

No trabalho, a mãe do J. Key pede pra sair mais cedo.

O argumento verbal:

A. Key: É aniversário do meu filho.

O desejo sentimental:

A. Key: Preciso dar um último abraço no pequeno Fox.

O medo racional:

A. Key: Preciso salvar o J. Key.

Dezessete horas.

Na porta de casa, um carro preto parado.

Fox, ingenuamente, feliz.

A mãe, inevitavelmente, triste.

O pai, providencialmente, em paz.

A. Key: Puxa… Que bom que cheguei em tempo.

Dá um abraço apertado no pai, um olhar reconfortante pra amiga e um recado incrédulo pro Fox.

A. Key (para Fox): Hey rapaz, cresce, ok? Muito. Muitão. Fica bem grandão. Faz muitos amigos novos. Brinca bastante. Escreve pro J. Key quando tiver saudade. E se puder, só se você puder, não esqueça!

Vindo do céu, uma vozinha chorosa.

Com o bracinho estendido na grade de nylon do terceiro andar, J. Key chama, só chama.

J. Key: Foooooox. Foooooooooox. Foooooooooooooox!

A. Key olha pra cima.

Ainda não pode chorar.

Um miúdo entra no carro seguindo papai e mamãe pra mais uma possibilidade de ser o melhor amigo de alguém.

O outro miúdo, precisa desesperadamente da mãe.

A. Key sobe correndo, abre a porta de casa trêmula.

J. Key dá um pulo no seu colo, aperta bem forte e suplica.

J. Key: Mãe, liga no 204. Por favor, mãe. Faz isso! Liga no 204, mãe. Liga! Liga, mamãe.

A. Key (tentando entender e o acalmar): Meu anjo, se acalma. O que tem no 204? Quem está lá? Por que eu preciso ligar pra lá?

J. Key (chorando): O Fox foi embora mãe, o Fox foi embora! Não tem mais o Fox no 502. Vamos procurar, mãe. Quem sabe tem alguém no 204. Quem sabe tem alguém lá pra brincar comigo. O Fox já foi mamãe. O Fox foi embora. Ele foi, mamãe.

Chora copiosamente.

Vinte e seis de julho de dois mil e trinta.

O aniversário de dezenove anos do Fox.

O dia da despedida, provavelmente, não existirá na memória de J. Key e Fox.

Mas a aquarela e o diário serão pra sempre testemunhas.

Testemunhas do dia que dois miúdos foram verdadeiramente cúmplices, divertidamente amigos e infelizmente separados.

Fox, obrigada pela aventura. Agora parta para a próxima ;)

FIM

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