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Parricida!

  • Foto do escritor: Maria Gisele Knust
    Maria Gisele Knust
  • 5 de fev. de 2015
  • 1 min de leitura

Quando reapareci, Marta morreu de medo.

Ela me esbofeteou num ataque de surto, como se cresse que alma penada pudesse espantar feito fumaça. Me agarrou como se eu pudesse escapulir feito imaginação. Me deu um beijo desbocado, cheio de amor.

- Zé?

- Eu estou de volta, Marta. Eu não morri!

- Eu enterrei você, Zé...

- Eu não desboto a sua dor, Marta. Mas você, no alto do seu egoísmo, não enxerga que a minha perda foi contra natural.

- Augusto não morreu, Zé!

- Morreu! O meu filho morreu. Ele não meteu uma bala nas suas costas. Foi na minha! Nas minhas costas, Marta. E essa foi a pior ferida da minha vida. Porque enquanto ele metia uma bala nas minhas costas, ele não matava José Pedro, ele matava o menino que eu carreguei no coração enquanto estava na barriga. Ele matava a si próprio, meu filho amado, Marta.

Chega ao mundo.

Nasce um pai.

Cresce.

Nos transforma.

Morre.

E nos mata junto.

Nos mata.

E morre também.

- Eu espalhei suas cinzas, Zé. Como um voo da sua existência.

- Perdoa-me, Marta. Você no máximo enlutou a minha ausência. Eu perdi um filho. A canção que havia entre nós virou réquiem.

Nos mata.

Mas permanecemos vivos.

Vive.

Mas morre para nós.

Perder um filho é contra natural.

Parricida!

Quem lhe condenará?

Amor de pai segue apenas em um sentido: para frente.


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